Rex Ryan, Jim Schwartz e a filosofia de uma defesa

Quando Rex Ryan assumiu o comando do Buffalo Bills em janeiro de 2015, muitos achavam que o time finalmente iria chegar ao playoffs na temporada daquele ano depois de muito tempo.Parecia o casamento perfeito.Afinal, Rex Ryan é uma das melhores mentes defensivas da liga, e o Bills teve uma das melhores defesas da NFL em 2014, comandada por Jim Schwartz, com Mario Williams, Kyle Williams e Kiko Alonso.Porém, de um ano para o outro a produção caiu.De quarta melhor defesa da liga em 2014 a defesa caiu para 19ª em 2015.

Por que Rex Ryan ainda não conseguiu repetir a produção das defesas que ele comandou no seu tempo de Jets e Ravens? Esse artigo não vai julgar erros ou acertos de Rex Ryan no comando do Bills.O que vai tentar explicar é o motivo da defesa do Bills não tenha sequer mantido o nível de jogo de 2014 pra 2015.

De fato o Bills sofre bastante por ter 3 coordenadores de defesa diferentes desde 2013.Mike Pettine comandou a equipe naquele ano, e ele é um pupilo de Rex Ryan.Depois de sair para comandar o Browns, Jim Schwartz chegou e fez um bom trabalho em não tentar mudar toda a filosofia do time de uma vez, misturando um pouco de cada.Com Doug Marrone inesperadamente rescindindo seu contrato com o Bills e a chegada de Rex Ryan, a defesa se viu mais uma vez entre uma filosofia e outra.

O fato é que a mentalidade necessária pra jogar numa defesa de Rex Ryan é diferente da mentalidade pra se jogar numa defesa comandada por Jim Schwartz.

Palavras do HC do Seahawks Pete Carroll quando comandava a USC “Se você não tiver uma visão clara da própria filosofia, você vai tropeçar por todo lugar.Se ganhar, será por pura sorte”.

É possível explicar a diferença entre a filosofia de uma defesa de Rex Ryan para uma de Jim Schwartz com apenas 2 imagens.

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Nessa imagem um Psycho front.Psycho front é um tipo de front onde a defensa alinha apenas um ou dois jogadores com as mãos no chão na linha defensiva enquanto os Linebackers fingem antes do snap que vão fazer blitz por deferente gaps para confundir o QB e a linha ofensiva.O que esse front está falando verbalmente pro ataque é “Você nunca vai saber antes do snap quem da defesa vai fazer o pass rush e por qual gap, e quem vai fazer a cobertura de passe”

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Já nessa imagem vemos o famoso front Wide 9, que deu fama a Jim Schwartz quando ele comandava o Lions.Nesse front os DEs estão alinhados em um 9-technique, o que significa que eles estariam a aproximadamente uma jarda de distância horizontal caso um TE estivesse alinhado na formação.Esse alinhamento dificulta o bloqueio do OTs, que ficam em um ângulo desfavorável para fazer o pass rush.O que esse front de defesa fala pro ataque é “Você sabe exatamente quem vai fazer o pass rush, mas mesmo assim não vai achar nenhum recebedor livre antes que meu DEs cheguem até você”.

Rex Ryan sempre foi adepto de mandar blitz constantemente.São esquemas onde o QB não pode saber quem vai fazer o pass rush e quem vai fazer o drop para a cobertura.Ele precisa que DEs estejam dispostos a cobrir o passe e que os Linebackers ganhem a batalha 1-a-1 contra os jogadores da linha ofensiva para sacar o QB.A questão para fazer esse tipo de filosofia funcionar é que você tem que mudar a mentalidade do jogador do Front 7.Você tem que fazer o Linebacker (e as vezes até mesmo jogadores da secundária) que vai fazer a blitz querer atacar e infernizar o QB mais do que qualquer outra coisa.E pra isso você tem que buscar maneiras de motivar ele a querer isso.

Outros técnicos que também tem como filosofia o uso de blitz constante tem sistemas motivacionais para que o jogador tenha essa mentalidade.Gregg Williams é outro técnico conhecido por ter esquemas de blitz complexas em seu playbook.Para motivar os jogadores, ele colocava uma tabela com as estatísticas de cada jogador na sala de encontro pra todo mundo ver, e baseava o tempo de jogo de cada jogador naquela tabela.Se alguém fosse reclamar do pouco tempo de jogo que estava tendo, Williams pedia pra que o jogador olhasse pra tabela.Ele queria produção, e só jogaria quem tivesse isso.E seu sistemas motivacionais vão ainda além.Lembra do escândalo de bounty de quando Williams era coordenador defensivo do New Orleans Saints? Pois é.

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Um dos complexos esquemas de blitz de Gregg Williams

Já o tipo de filosofia que Jim Schwartz implementa em seus times é de conseguir que a defesa tenha um bom pass rush com apenas 4 jogadores.Suas defesas são famosas por ter uma linha de defesa que joga agressivamente, sem precisar ler e reagir.A palavra chave é: foco.Fazer apenas uma coisa, e fazê-la bem.Com os jogadores da DL focados apenas no backfield, os Linebackers e a secundária também podem focar em cobrir o passe.

Essa costuma se a filosofia de defesas que tem um esquema de cobertura por zona como base.Pense nas grandes defesas Tampa 2 do Buccaneers de 2002 ou do Bears de 2006 de Brian Urlacher.Ou então não precisa nem olhar pro passado: A defesa do Seahawks dessa década que usa o Cover 3 como cobertura base precisa de uma DL que consiga pressionar o QB por si só.

Com a responsabilidade de cobrir zonas, você precisa saber ocupar espaços e defender as diferentes combinações de rotas.E isso só alcança uma execução perfeita se o time usar esse tipo de cobertura muitas vezes durante treinos e jogos.Você precisa que os jogadores da secundária e os Linebackers tenham memória muscular e disciplina pra saber o que fazer contra uma determinada combinação de rota.Drills 7-on-7 são importantes nesse tipo de filosofia para desenvolver essa memória muscular.

É claro que independente da filosofia, todo time vai eventualmente correr um Cover 2 num jogo, e não importa se o time costuma enviar apenas a DL para o pass rush, todo time tem seu pacote de blitz no playbook.

Mas mais cedo ou mais tarde você tem que escolher o que você quer fazer consistentemente bem e construir a mentalidade do seu time em cima disso.É o que Pete Carroll finalmente se deu conta depois de tantas falhas na sua carreira.E é o que Rex Ryan ainda tenta fazer com a defesa do Bills.