Uma breve história do Futebol Americano através das formações ofensivas – pt. 2

Na primeira parte dessa série de artigos vimos como as mudanças de regras no decorrer da história do Futebol Americano influenciaram na adoção de diferentes formações ofensivas pelos ataques.

Dessa vez vamos ver como outras mudanças de regras junto com o desenvolvimento do jogo de passe fizeram o passe pra frente ser cada vez mais utilizado no Futebol Americano, refletindo assim no uso de diferentes formações.

Com a formação T e suas variações sendo adotadas em todos os níveis de Futebol Americano, as defesas também passaram a padronizar a maneira com que o Front de defesa se alinhava para deter a formação.Isso significa que os ataques precisavam de um contragolpe para fazer seu jogo corrido produzir mais.E esse contragolpe foi uma ameaça aérea cada vez maior.

 

Wishbone e Flexbone: Ameaças verticais e horizontais para manter a defesa honesta

Com a formação T se popularizando no College, uma jogada em específico tornou o jogo corrido letal para as defesas.Essa jogada é o famoso Triple Option.E a formação onde o Triple Option fez boa parte da sua reputação foi a formação Wishbone

formação Wishbone

No Triple Option, como o nome sugere, o ataque tem 3 possíveis carregadores da bola em uma única jogada, o que vai definir quem vai carregar a bola é uma leitura do QB que é feita enquanto a jogada acontece.A bola pode ser carregada tanto pelo Fullback que se alinha imediatamente atrás do QB (opção 1), quanto pelo QB (opção 2) e pelo RB (opção 3).O back que sobra faz o Lead Block para abrir ainda mais espaço para a corrida.

jogada Triple Option

Essa jogada se tornou muito difícil de ser defendida, e as defesas precisavam de uma resposta.Alinhar um Cornerback perto da linha de scrimmage, na borda da formação e colocar ele pra fazer uma blitz fazia com que a terceira opção do Triple Option, que é potencialmente mais perigosa por colocar um bom corredor com muito espaço pra correr pela lateral, fosse anulada pela blitz do Cornerback.

pistoltripleoptionfootball.com

Blitz do Cornerback dificultava a corrida externa do RB no Triple Option

pistoltripleoptionfootball.com

Alinhar um TE como WR forçava o Cornerback ficar longe da linha de scrimmage

A resposta para isso foi alinhar o TE como WR (ou como se falava na época, Split End).Com esse WR se alinhando perto da sideline, o Cornerback que faria blitz agora precisa marcar o WR.Se uma defesa tentasse parar o option com blitz externa do Cornerback, ela agora poderia sofrer um passe longo com esse WR correndo desmarcado.

A imagem abaixo é de um jogo entre Oklahoma e Nebraska de 1971.O ataque de Oklahoma usa a jogada Triple Option perto da endzone.Repare que no topo da imagem, o Split End (ou Wide Receiver alinhado em postura 3 pontos, igual um jogador de linha ofensiva) se alinha longe da linha ofensiva, forçando um Cornerback a marcar ele.Esse Cornerback nem ao menos se dá contada corrida, que termina em um TD do Quarterback.

Já na imagem abaixo vemos um passe longo para o Split End funcionado partindo da formação Wishbone com um playaction.

Algumas décadas depois, outro tipo de formação ganhava popularidade pelo mesmo princípio de ajudar a jogada Triple Option a ser mais efetiva com ameaças aéreas para a defesa: O Flexbone.Na formação Flexbone, o ataque tem 2 Wingbacks alinhados depois de cada Offensive Tackle (tecnicamente eles seriam chamados de Slotbacks, pois o termo Wingback implica que ele se alinha do lado de um TE, mas vou chamar de Wingback pra tentar padronizar).

Formação Flexbone

Com esses backs alinhados perto da linha ofensiva, eles agora se tornavam ameaças verticais imediatas para o passe longo, forçando a defesa a colocar seus Safeties mais recuados.

E a jogada Triple Option ainda podia se executada com um desses Wingbacks fazendo um motion para ficar atrás do Fullback no momento do snap e se tornar opção para correr com a bola no lado oposto de onde se alinhou.

www.elevenwarriors.com

Outra formação que se popularizou por ter ameaças verticais combinadas com o jogo corrido originados das formações T e Single Wing foi a formação Wing-T.No Wing T, o Fullback e o Running Back se alinham formando um L, enquanto o Wingback pode se alinhar tanto do lado do TE quanto do Offensive Tackle do lado fraco da formação, dando assim flexibilidade para o jogo corrido.

formação Wing-T

 

I formation, Split Backs e Single Back: O Quarterback se torna a estrela do Futebol Americano profissional

Como eu tinha dito nesse artigo, a NFL é a elite do College.A NFL concentra o talento raro dos níveis mais baixos.Então era só uma questão de tempo para que passadores talentosos fossem treinados por técnicos lendários como Paul Brown, Sid Gilman, Don Coryell e Bill Walsh, fazendo com que o jogo de passe se tornasse a nova identidade do esporte.

Nos anos 50 e 60 Quarterbacks como Johnny Unitas e Joe Namath passaram a se tornar ícones do esporte levando seus times a títulos improváveis.E quanto maior a popularidade deles, maior se tornava a popularidade do esporte como um todo.

Percebendo isso, a liga passou por uma série de mudanças de regras nos anos 70 para  “turbinar” ainda mais o jogo de passe e assim fazer com que os jogos se tornassem mais excitantes, fazendo a popularidade do esporte disparar.As principais mudanças são a criação da falta contato ilegal, onde um defensor não pode fazer contato ostensivo com o recebedor depois de 5 jardas da linha de scrimmage, e a legalização do bloqueio com as mãos e braços estendidos, o que possibilitou um aumento de tempo para o Quarterback no Pocket.

Com as bases do jogo de passe já bem fundadas por Paul Brown e Sid Gilmann, os anos 80 foram marcados pela popularização de 2 tipos sistemas de ataques: O West Coast, baseado em esticamentos horizontais e o Air Coryell. baseado em esticamentos verticais.

No ataque West Coast dos 49ers de Bill Walsh, a formação Split Back (também chamada de Pro set) era a formação padrão do ataque de Bill Walsh.A formação Split Back, que é evidentemente derivada da formação T, tem o Fullbacks e o Runningbacks alinhados 4 jardas atrás da linha de scrimmage e alinhados atrás dos Offensive Tackles de cada lado.Com essa formação, o ataque tinha 2 recebedores em boa posição para atacar a zona Flat da defesa ou fazer uma rota angulada no meio do campo, enquanto os princípios do jogo corrido da formação T ainda funcionavam.

formação Split Backs

A jogada abaixo é um exemplo de como os Runningbacks eram usados no jogo de passe do ataque do 49ers nos anos 80.

Já no ataque Air Coryell, a formação Singleback funciona de maneira parecida com a formação Flexbone, porém com um jogo corrido mais baseado na velocidade e na força bruta do que no direcionamento falso da Flexbone.Com 2 TEs e 2 WRs na formação Singleback, o ataque também tem 4 ameaças verticais imediatas, enquanto um Runningback alinhado a 7 jardas da linha de scrimmage podia atingir o ponto de ataque com boa velocidade ao correr com a bola.

formação Singleback

A jogada abaixo é um exemplo de como os Tight Ends eram usados no ataque Air Coryell.O lendário TE Kellen Winslow faz uma recepção em uma rota Out depois de um playaction.

Mas a formação que mais se popularizou nos times da NFL a partir dos anos 80 foi a I Formation.Essa formação passou a ser uma combinação melhor entre velocidade e força bruta do que a formação T com as possibilidades de alinhar o Fullback no lado forte ou no lado fraco da formação, formando as variações I Strong e I Weak.A I Formation se tornou a formação básica para o jogo corrido da NFL.

I formation

I Strong

I Weak

Nos anos 80 e 90, os ataques tanto na NFL quanto no College passaram a ser mais balanceados entre corrida e passe.Até que nos anos 2000, uma nova febre tomou conta do College.Essa febre foi tão forte que a NFL também está pegando ela na década atual.Essa febre era as formações Spread.Mas isso fica pra terceira e última parte dessa série de artigos.