Eu estava errado. Ano passado, não apostava no Buccs para ganhar o último Super Bowl. Achava que Brady não ia se adaptar ao esquema vertical de Bruce Arians e ia sucumbir ao senhor tempo. Ninguém mandou duvidar do GOAT.
Eu sempre faço um vídeo analisando o último Super Bowl. Não fiz dessa vez porque achei que o Super Bowl 55 não foi bom o suficiente para merecer. Mas vale a pena falar do trabalho de Bruce Arians para continuar tirando o máximo de seu QB de 44 anos.
O ataque do Bucs demorou um pouco pra engrenar na temporada passada. Mas quando engrenou, ficou claro qual era o plano de Arians: Um ataque simples, que busca colocar suas poderosas armas aéreas em boa posição para explorar os matchups e os passes precisos de Tom Brady.
Apesar de não seguir a tendência atual de muitos RPOs e corridas Option, o ataque engrena pela sua execução infalível.
O polêmico jogo corrido
O ataque do Buccs é um bloco que é montado um em cima do outro. O primeiro bloco é o jogo corrido, que é o ponto de mais controvérsia nesse ataque.
Questionam a eficiência de Leonard Fournette e Ronald Jones. Que eles não tem não tem uma boa média de jardas por corrida e que o time deveria trocar essas corridas por jogadas de passe. Eu não compartilho dessa opinião.
Pra entender isso, deve-se olhar para o esquema do jogo corrido. Ele é baseado em dois conceitos muito parecidos:
O Inside Zone
e o Duo
Esses dois conceitos viraram feijão com arroz na NFL de hoje. Todo time usa eles. Simplesmente porque ele são bons para um objetivo: Maximizar as chances de garantir 3-4 jardas.
Ou seja, não são como o Outside Zone, um conceito treinado minuciosamente por times na esperança de que uma das corridas quebre pra um ganho de 30+ de jardas, por exemplo.
O que eu quero dizer com isso é que o Buccs não gasta muita energia pensando muito no jogo corrido de qualquer jeito. Não ter um jogo corrido explosivo é mais do que esperado. Essas corridas são “jabs”, marteladas para desestabilizar a defesa.
Outra vantagem é que elas ajudam a mover as correntes. Pra que você vai gastar muito o braço de seu QB de 44 anos? Lembre-se: O objetivo final do ataque é explorar aqueles matchups no jogo aéreo. Forçar o QB a ganhar essas jardinhas básicas em passes hitch o flat não vai ajudar em nada nisso. Correr vai. O foco nunca foi o EPA, DVOA, ou sei lá o que. O foco é abrir oportunidades pra esses matchups. E pro playaction.
O playaction
Então você tem um jogo corrido te macetando lentamente e um dos melhores QBs em fingir um handoff. A partir daí entra o segundo bloco do ataque: Os passes de playaction.
Veja como o segundo nível da defesa do Cowboys é sugado pelo playaction, deixando Antonio Brown sem ninguém num raio de 5 jardas.
Alguns dizem com base em estatísticas sem contexto que não se precisa correr pra que o playaction funcione. Querem me dizer que se o Buccs não corresse, esses LBs seriam sugados dessa mesma forma? deixando Brown totalmente isolado? Números não quantificam o quanto uma janela de passe está aberta nem exatamente o por que ela abriu.
As janelas de passe ficam escancaradas. A execução é precisa demais.
Se os defensores não são sugados no playaction, um bom contragolpe já pode ser preparado.
O Falcons vem com uma cobertura Cover 2 com o safety descendo depois do snap, justamente pra deter uma rota cruzada. Os defensores não caem no playaction, mas Antonio Brown corre uma rota Out chicoteada.
A chamada defensiva aqui é muito boa contra o jogo de playaction. O problema é que a execução da rota e do passe foram perfeitas.
Os matchups
Tom Brady sempre desenvolve uma química impressionante com seus alvos. Quando estes são postos em situações ideais, muito pelos dois blocos citados anteriormente, o resultado é o home run, ou melhor, o touchdown.
O time tem muitas armas e ainda pode usar o recurso de alinhar Antonio Brown em um plus split, perto da lateral. Quando um WR se alinha assim, é praticamente impossível dobrar a cobertura nele. É ele e o CB, mano a mano.
A defesa do Cowboys aqui também tenta rolar um safety. O ataque explora essa tendência das defesas para para o jogo de playaction com uma rota wheel do TE Grownkowski, mano a mano com o LB. A combinação de rota Post-Wheel tenta criar um ‘rub’ pra atrapalhar a marcação do LB no TE, mas não consegue. A cobertura não é ruim, mas o passe é pornográfico.
Também podem explorar a atenção dada a algum recebedor pra fazer com que outro conceito funcione. Aqui alinham Gronkowski em um lado, mas o objetivo é bater a cover 2 com a combinação de rota do outro. O jogador do lado oposto faz um bump no Gronk em vez do drop na cobertura. Do outro lado, uma rota Spot segura os LBs e dá espaço pra rota Seam
Eu não vejo o Buccs como favorito pra ganhar o Super Bowl novamente. Mas eu vejo eles calando a minha boca de novo.