2022: A temporada em que o ciclo deu meia volta

Alguma coisa aconteceu na temporada de 2022 que fez a média de pontos por jogo cair. Se tornou comum jogos estarem 7 a 3 no intervalo. Depois de tanto tempo com os ataques aumentando sua produção e explosividade, o que aconteceu?

Os stats de jardas corridas pelos RBs dão uma pista. Em 2021, apenas 7 RBs passaram das 1000 jardas. Em 2022, foram 16.

2021

2022

Mas por que os times resolveram correr mais do nada? Isso não contraria a tendência pregada pelo analytics de que passar a bola é mais produtivo?

É, a resposta rápida não pode ser outra. Passar a bola simplesmente não resulta em mais produção como antes. Daí os time estão correndo mais. Simples.

Já a resposta completa contempla o que eu venho falando nesse site desde o início. De que olhar estratégico quanto ao jogo tem que ser orgânico. Muito mais adaptável do que idealista.

O pessoal do analytics adora chiar quando o assunto é corrida no 1st down ou no 2nd and long. O fato é que eles afirmam isso em modelos árbitrários que só levam em conta os números dos últimos anos recentes, e por isso só parecem fazer sentido (Ignorando outras questões a além da produção de jardas).

Esses modelos não refletem a realidade de 2022. Nem a da temporada de 2000, quando 18 RBs passaram das 1000 jardas.

A verdade é que não dá pra comparar diretamente as temporadas. Cada ano é um ano. O contexto é diferente.

O futebol americano é um ciclo. E o ciclo está dando meia volta da maneira mais escancarada possível em 2022.

Coincidência? Não exatamente

A verdade é que está acontecendo na NFL a mesma coisa que aconteceu no College. As defesas aumentando o uso de coberturas 2-high, com dois safeties no fundo, para defender os ataques spread. A mudança de mentalidade da defesa é bem clara quando você compara determinadas situações.

Por exemplo, nessa situação. Uma 1st and 10, temos o Vikings, um time que gosta de correr com a bola com um personnel 21 (2RB – 1TE) alinhado em uma I-Formation. Tudo nessa situação indica uma jogada de corrida. Normalmente, uma defesa abaixaria um dos Safeties pro box, mesmo que ela vá dropar talvez para para um cover 2 depois. O Packers não faz isso. Ele não se importa se vai ser jogada de corrida, e mantém os 2 Safeties lá no fundo. Aqui que agente vê que as prioridades se inverteram.

O 2-high, é claro, facilita sua defesa a defender o passa longo porque coloca dois jogares no fundo logo no início, jogando com uma cobertura Cover 4, Cover 2 ou 2-Man. Mas o verdadeiro valor dele é que você não precisa necessariamente executar uma dessas  coberturas 2-high. Pode ser uma Cover 3 Buzz ou um Cover 1 Robber. Ou até mesmo qualquer tipo de pattern-match que você precisa. Apenas a posição dos safety no campo já facilita qualquer mudança na chamada que a secundária precise fazer. Além dele estar bem posicionado para defender conceitos de corrida que usam motion, como reverses.

Mas porque isso teve que acontecer tão escancaradamente e especificamente na temporada de 2022? Lembre-se: Isso tudo é um ciclo. As defesas estão fazendo isso pra se adaptar a uma tendência dos ataques. E a tendência dos ataques nos últimos anos é: Formações spread influenciando seu jogo de passe E TAMBÉM seu jogo corrido. Meu palpite é 2022 foi o ano que a tendência desse tipo de ataque se tornou tão onipresente que todas as defesas se viram obrigadas a se adaptar. Algumas defesas conseguiram mais do que outras. A do Vikings por exemplo, sofre ao deixar o esquema de Mike Zimmer de lado, como mostra esse vídeo de Brett Kollman.

E agora? pra onde o ciclo vai rodar?

Por conta de tudo isso, se seu time não tem um QB que faz parte da elite jovial da liga, como Mahomes, Burrow, Herbert e Allen, 2022 foi um ano abaixo do normal pro seu ataque. Mas a liga está fadada a escores baixos agora?

Estará até os ataque se adaptarem de novo. Eles podem fazendo isso se melhorarem na execução de esquemas que ataquem o primeiro nível da defesa. Checkdowns, Screens, tudo para fazer a defesa pagar por deixar aquele espaço vazio antes do snap.

Os ataques desacostumaram a executar essas jogadas curtas com regularidade e eficiência. Nessa jogada, Cousins erra um passe de checkdown. O passe poderia ter sido antes, poderia ter sido mais certeiro. Mas a falta de eficiência faz com que o Linebacker impeça a recepção. Os ataques precisam voltar a executar esse tipo de jogada com perfeição se quiserem retomar a produção do passado.

 

Mas o que realmente faz uma defesa pagar por alinhar um Safetie longe é o jogo corrido Power. Os ataques (pelo menos alguns) voltarão a se alinhar com o fullback e correr mais de 40 vezes por jogo, colocando toda aquela força no ponto de ataque onde o safety deveria estar.

É essa a vantagem que o bloqueio do fullback explora se o Safety não estiver no box. Essa é a jogada da primeira imagem desse artigo. Repare que se o Center não tivesse errado o bloqueio, o ganho seria maior porque o RB teria mais espaço pra correr por conta da falta de Safetie no box.

 

Isso tudo não vai acontecer de uma hora pra outra. Para um ciclo rodar, é questão uma década inteira. Os times precisam de tempo pra mudar suas filosofias, e principalmente, para construir um roster com o personnel necessário para determinado esquema.

Mas com certeza haverá um maior uso dos fullbacks e do jogo corrido como um todo. Como tenho certeza? Porque no college aconteceu a mesma coisa.

 

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