O raio caiu duas vezes no mesmo lugar.O Cowboys, dono da melhor campanha da temporada regular antes do jogo do último domingo, perdeu mais uma vez para o rival de divisão Giants.
Liderado pelos novatos Dak Prescott e Ezekiell Elliot, o ataque do Cowboys é um dos mais difíceis de ser defendido atualmente. Com uma linha ofensiva extraordinária bloqueando para 2 atletas extraordinários (Prescott e Elliot) e ótimos recebedores em Dez Bryant e Jason Witten, é preciso de um bom plano de jogo para lidar com esse ataque.
E qual plano de jogo consegue parar um ataque desses? existe uma filosofia em termos de se montar um plano de jogo defensivo: forçar o time adversário a te atacar com a “mão esquerda”
Belichick is the best I’ve ever seen at constructing gamelans that force offenses to beat them “left handed”
— James Light (@JamesALight) 15 de novembro de 2015
O que isso quer dizer basicamente é que uma defesa deve primeiro pensar em defender a qualquer custo o aspecto mais forte de um ataque.O ataque tem um RB muito bom que sempre passa das 100 jardas em 1 jogo? Se defenda contra suas corridas a qualquer custo, se possível colocando 8 ou 9 jogadores no front de defesa.O ataque tem um recebedor que ninguém consegue marcar e por isso tem mais de 10 recepções por jogo? coloque cobertura dupla nele, use a técnica bump-and-run para atrapalhá-lo a correr suas rotas.
O raciocínio por trás dessa filosofia é que um ataque sempre tenta começar a conquistar as jardas da maneira mais óbvia.Se um ataque tem uma jogada que ninguém consegue parar, esse ataque vai usar essa jogada dezenas de vezes em um mesmo jogo.Por isso se uma defesa consegue parar as principais jogadas de um ataque, esse ataque fica fora da sua própia zona de conforto.E fora da sua zona de conforto, o ataque comete mais erros.
Voltando a falar do jogo entre Cowboys e Giants, o que o coordenador defensivo do Giants Steve Spagnuolo fez foi implementar essa filosofia em seu plano de jogo.O Giants já tinha conseguido limitar o jogo corrido de Elliot na primeira partida da temporada, e mais uma vez parou o avanço terrestre em momentos chave desse jogo com sua forte linha defensiva.Portanto, conseguiram limitar mais uma vez a principal arma do ataque do Cowboys: o jogo corrido com o RB Ezekiell Elliot.
O próximo passo era pensar no ataque aéreo.Como forçar o ataque aéreo do Cowboys a jogar com a “mão esquerda” ? Spagnuolo encontrou a resposta na inexperiência de Prescott: Confundir o QB mostrando blitz antes do snap e tentar forçá-lo a identificar as blitz e coberturas, fazendo os ajustes necessários.
Nesse artigo vamos analisar algumas jogadas onde isso foi feito, colocando o ataque do Cowboys para fora da sua zona de conforto.
Deixando o QB desconfortável com Blitz
O alinhamento pré-snap do front de defesa do Giants nesse jogo na maioria das vezes era confuso para o QB: LBs alinhados muito perto da linha de scrimmage, se movimentando e mostrando blitz em Gaps diferentes.Quando isso acontece o QB e a linha ofensiva precisam fazer os ajustes de proteção certos para conter uma possível blitz.Em alguns momentos da partida o ataque do Cowboys não foi capaz de fazer isso, o que muitas vezes fez com que um pass rusher do Giants ficasse com caminho livre para tentar o sack no QB.
Vamos ver um exemplo de uma jogada onde isso aconteceu. Nessa jogada, antes do snap o Giants 7 jogadores do front de defesa .Todos eles estão perto da linha de scrimmage e em boa posição para fazer uma blitz.O Cowboys tem 6 bloqueadores disponíveis para fazer a proteção de passe.
Colocar 7 jogadores da defesa em uma blitz geralmente não é efetivo, pois alguma rota curta ficará sem cobertura para um passe rápido.Mas outra forma de fazer uma blitz funcionar é fazer o ataque ficar na dúvida sobre quem do front vai fazer a blitz e quem vai fazer o drop pra cobertura de passe.Se a linha ofensiva apostar que os jogadores do lado direito vão pra blitz e os do lado esquerdo vão fazer o drop e acontecer o contrário, o ataque perde a “aposta” e a defesa agora tem um pass rusher com caminho livre para o QB.
É o que acontece nessa jogada.A linha ofensiva do Cowboys fez um Slide Protection para o seu lado esquerdo buscando bloquear blitz de jogadores que estão nesse lado do front de defesa.Mas o que acontece é que o DE desse lado faz o drop para a cobertura de passe, enquanto o CB do lado oposto faz uma blitz inesperada no lado da linha ofensiva onde apenas 2 jogadores bloqueiam.Com isso, ele tem caminho livre para o QB.
Resumindo, o Cowboys colocou 4 bloqueadores para um lado onde apenas 2 jogadores do Giants fizeram o pass rush, e 2 bloqueadores no lado onde 3 jogadores do Giants fizeram o pass rush.Dessa forma, o passe incompleto foi forçado pela iminência do sack do QB.
Aqui temos outro exemplo onde uma blitz inesperada do CB deixa o QB desconfortável no pocket.Esse desconforto faz ele passar para o seu checkdown (rota curta onde o QB faz o passe se não acha nenhum recebedor livre na sua progressão de leitura), mas o avanço depois da recepção desse recebedor é limitado pelo DE que fez o drop na cobertura.Essa jogada é prova de que um bom plano de jogo foi pensado, onde até a válvula de escape de uma jogada ofensiva é tirada pela defesa.
Aqui vemos mais uma vez a proteção de passe da OL do Cowboys não conseguindo prever os jogadores que vão fazer o pass rush.O Cowboys está em uma formação Empty, o que significa que apenas os 5 jogadores da OL vão poder fazer a proteção de passe.A defesa do Giants, por sua vez, mostra 6 jogadores em posição de fazer o pass rush.Isso já poderia produzir um pass rusher com caminho livre caso os 6 fossem para o pass rush, mas o Giants acaba fazendo o pass rush apenas com 5 jogadores e mesmo assim produz mais uma vez um jogador livre de bloqueio para tentar fazer o sack.A sorte do Cowboys é que dessa vez Prescott consegue um passe rápido para a rota Stick do TE Jason Witten.
As constantes blitz fizeram com que Dak Prescott muitas vezes ficasse “travado” no primeiro recebedor da progressão de leitura, geralmente o WR Dez Bryant.Com medo de sofrer um sack, Prescott esperava por muito tempo sua primeira leitura na jogada ficar livre e não continuava sua progressão para outro recebedor.A imagem abaixo mostra uma jogada onde ele poderia ter passado a bola para uma das rotas no meio do campo em vez de esperar que Dez Bryant ficasse livre.
Cobertura agressiva para frear o ataque aéreo
Enviar blitz é fácil.Difícil é lidar com as desvantagens disso.E a desvantagem é a pressão que o uso de blitz coloca nos jogadores que vão fazer a cobertura de passe: Com menos jogadores na cobertura, menos ajuda os jogadores da secundária tem para marcar seus recebedores.
Mas o Giants na última off-season fez bem ao investir bastante na secundária.Com os CBs Janoris Jenkis, D. Rodgers-Cromartie e o novato Eli Apple, o Giants pode desafiar os recebedores adversários com cobertura homem-a-homem e ter boas possibilidades de vencer as batalhas 1vs1.
A primeira interceptação do jogo veio de uma ótima cobertura de Janoris Jenkins em Dez Bryant.Janoris Jenkins foi designado para marcar Bryant na maioria das jogadas desse jogo e conseguiu limitá-lo a apenas 1 recepção para 10 jardas.
Na jogada da interceptação ele está alinhado em Press e faz um bom trabalho espelhando o release de Dez Bryant.O objetivo de Dez Bryant com o seu release externo era fazer com que Jenkins achasse que ele iria correr uma rota Fade.Mas com o bom espelhamento do release do WR, Jenkins manteve sua postura Square (joelhos alinhados com os ombros) e assim pôde se manter no caminho da rota Slant de Bryant.Com Jenkins a sua frente, Bryant escorrega e Jenkins consegue se antecipar ao passe e fazer a interceptação.
Apesar de ter usado de muitas jogadas de blitz nesse jogo, o Giants também fez um bom trabalho com blefes de blitz.Na próxima jogada que vamos analisar, o Giants mostra 5 jogadores em posição de pass rush antes do snap, mas acaba colocando apenas 3 no pass rush e força o passe incompleto com boas coberturas na secundária.
Atrás do placar e precisando de pelo menos um FG para empatar o jogo, o Cowboys está em uma situação de 2nd and 8.A jogada escolhida pelo ataque do Cowboys é o conceito de passe Hi-Lo, com a combinação de rota Dig-Drive.
A cobertura que a defesa do Giants escolhe nessa jogada é perfeita para defender esse conceito de passe: Cover 1 (marcação homem-a-homem) com 2 jogadores em cobertura por zona no meio do campo (Middle Hole).Essa cobertura vai anular totalmente a jogada do ataque do Cowboys.
Antes do snap, a defesa do Giants tem os Linebackers (#59) Devon Kennard e (#57) Keenan Robinson mostrando blitz nos Gaps B de cada um dos lados da linha ofensiva.No entanto, essa blitz é um blefe.Esses Linebackers vão fazer o drop para cobertura com a técnica Thumbs.Nessa técnica eles são designados a mostrar blitz antes do snap e no momento dos snap, eles vão tentar se antecipar a qualquer passe para uma rota no meio do campo, formando uma “parede” contra um passe para essa rota.
Esse tipo de cobertura defendeu perfeitamente a jogada escolhida pelo Cowboys porque o drop desses Linebackers fez com que as rotas Dig e Drive do conceito de passe Hi-Lo recebessem automaticamente cobertura dupla.Veja que logo depois do snap, esse LBs conseguem se colocar em frente a essas rotas,fazendo um Jam e atrapalhando os recebedores Dez Bryant e Jason Witten a correrem suas rotas de forma apropiada.
Perceba que com o trombo que o LB (#59) D.Kennard faz no WR (#88) Dez Bryant, fica muito mais fácil para o CB (#20) Janoris Jenkins fazer a cobertura em Bryant, pois o WR já não tem mais tanta aceleração e não consegue separação da marcação do CB.
Já a rota Drive do TE (#82) Jason Witten é totalmente anulada pela marcação dupla do Safety (#21) Landon Collins e do LB (#57) Keenan Robinson. Como a rota Drive não passa das 5 jardas de distância, eles podem pela regra continuar mantendo o contato com o recebedor, atrapalhando-o totalmente de correr a rota Drive.
Com essas 2 rotas totalmente anuladas, Prescott se volta para as rotas Seam e Comeback no lado direito.Porém, a marcação da secundária nessa rotas também é muito boa.Prescott então se vê obrigado a forçar o passe para Bryant e assim evitar o sack.
Conclusão
Depois de perder Jason Pierre-Paul pelo resto da temporada regular, o Giants provou que consegue continuar pressionando o QB com esquemas de blitz.E a chave para isso funcionar é o bom trabalho que a secundária vem fazendo.
Já o Cowboys precisa com que Dak Prescott aprenda rapidamente com os erros dos últimos jogos para não ter problemas nos playoffs.Prescott jogou muito bem durante boa parte da temporada, mas talvez esteja sofrendo agora do que é chamado de rookie wall.Se ele não conseguir superar esse problema, a pressão para que Tony Romo retome a posição de titularidade nos playoffs será grande.