O Falcons e os efeitos de trocas no playcall e de um (péssimo) plano de jogo

A temporada de 2019 do Atlanta Falcons é um case interessante. Não falta  talento na equipe e um record de 3-8 não reflete o que se espera de seus jogadores.

As críticas então certamente caem sobre o HC Dan Quinn e seu staff. A defesa, mesmo com os jogadores recuperados de lesão do ano passado, se transformou numa das piores da NFL. E o principal motivo para isso foi o fato de Quinn escolher acumular função de HC com DC.

A defesa do Falcons aparecia sempre fora de posição e cometendo erros mentais e táticos. Esse vídeo feito por Brett Kollman ilustra isso.

Mas depois da bye week, Quinn voltou atrás, e delegou as funções de playcall ao coach de LB Jeff Ulbrich (1 e 2nd down) ao DB coach Rahim Moore (3rd down).

O resultado disso foi que a defesa teve 2 excelentes jogos contra Saints e Panthers, resultado na zebra com a vitória do Falcons.

Comunicação, posicionamento e uma boa escolha de jogada

Deu pra ver que todos os problemas de comunicação e posicionamento da secundária foram praticamente resolvidos nesses 2 jogos.

Esse snap é uma aula básica de como se executar a cobertura Cover 1. Veja que o CB força o release externo, e enquanto o WR corre a rota Seam, ela afunila a rota para o FS, que por sua vez ganhar profundidade com o backpedal e atinge o recebedor para forçar o passe incompleto.

Já aqui, outra execução perfeita de uma cobertura Cover 3.Essa cobertura é desafiadora pro Curl-Flat defender porque ele tem uma área grande pra defender e não pode perder o leverage externo contra uma rota flat. Aqui o Safety Ricardo Allen defende muito bem uma rota flat do RB Alvin Kamara., mantendo o leverage e não deixando ele ter espaço na lateral.

Quando chegava a terceira descida, o playcall inteligente de Raheem Morris fez grande diferença.

Nesse 3rd down contra o Panthers a defesa do Falcons mostra a comunicação necessária. Ao ver o motion do RB Christian McCrafey, os LBs que estavam mostrando blitz recuam e se comunicam entre si.

A jogada chamada foi ideal e evitou o 1st down. No momento do snap, um do DTs faz o drop para ajudar a defender a rota Drive que viria do outro lado, assim o recebedor ao fazer a recepção ficou encaixotado e não conseguiu avançar jardas após a recepção para conquistar o 1st down.

 

Já esse playcall no jogo contra o Saints também mostrou a diferença que os diferentes detalhes em cada jogada fazem. Precisando de poucas jardas para o 1st down, o Saints vai com formação 3×1, isolando Michael Thomas em um lado. O Falcons coloca cobertura dupla em Michael Thomas, com um Top Bracket, e faz o drop de um DT novamente. O Saints tenta 2 rotas Spot na área para tentar um passe curto, mas a quantidade dos jogadores do Falcons na região não permite a recepção.

A defesa fez 2 ótimos jogos contra Saints e Panthers e iria enfrentar um time em tese mais fraco contra o Buccanneers.

Mas tudo deu errado de novo. E dessa vez o problema não pareceu ser exatamente o playcall, mas sim algo maior e mais abrangente: O plano de jogo.

Quando no quadro branco parecia bom mas no campo deu errado

O Atlanta Falcons encarou os Bucs e o ataque aéreo de Bruce Arians depois das duas zebras.É fato que Bruce Arians é um técnico respeitável que sabe muito de ataques aéreos, e se deve preparar uma defesa muito bem para um jogo contra ele.

Dan Quinn e o staff do Falcons, então, resolveram que iam fazer algumas coisas diferentes com a defesa de Atlanta. A principal dela foi de usar a cobertura Tampa 2, uma variação do Cover 2, em várias ocasiões. O intuito teoricamente seria de surpreender o ataque vertical de Arians e forçar erros e passes curtos.

O Tampa 2 é uma variação do Cover 2 onde o MLB faz um drop entre as 2 zonas profundas

O problema para Quinn, no entanto, foi o seguinte:

  • Os jogadores da defesa do Falcons não estão acostumados a executar o Tampa 2
  • O posicionamento da defesa tentou disfarçar a cobertura, tornando mais difícil ainda para os jogadores executarem, pois estavam fora do posicionamento ideal.

O resultado disso foi que o Buccanneers conseguiu uma big play atrás da outra quando o Falcons usava essa cobertura.

No primeiro TD aéreo dos Bucs, o QB Jameis Winston completou um passe numa rota Seam do WR #12 Chris Godwin contra o LB #45 Deion Jones, o Seam drop defender da cobertura Tampa 2. A jogada normalmente seria um ganho de 25-30 jardas não fosse a execução desastrosa do Safety #27 Demontaee Kazee, um dos Safeties em cobertura profunda. Ele erra bizonhamente o tackle e permite o TD.

Aqui mais uma vez temos Kazee fora de posição na cobertura Tampa 2. Perceba como antes do snap o alinhamento da defesa indicava uma cobertura Cover 1 ou Cover 3. A essa altura do campeonato, Arians já deve ter notado o que o Falcons tentava fazer e chamava jogadas de acordo.

Nessa jogada, um rota Seam, uma rota Curl e uma rota Fade estressam completamente uma secundária que notadamente não sabe o que fazer contra isso, Kazee, que deveria marcar a rota Fade, é congelado pela rota Curl, e o passe para a rota Fade é completo.

Repare no desenho das rotas do ataque, porque veremos ele de novo.

Mais um snap, mais um disfarce de cobertura e mais uma execução tenebrosa da Tampa 2. Aqui dois problemas muito claros de execução: o slot WR do lado direito corre uma rota Seam com um release totalmente limpo e sem nenhum tipo de reroute pelo jogador que alinha a sua frente. Por consequencia, o WR passa facilmente pelo primeiro nível na defesa e fica cara a cara com o Safety Kazee que acabou de sair da posição central do campo e mal sabe o que fazer numa cobertura Tampa 2. O resultado é um mais passe fácil na Seam.

O pior é que se nota que o Buccaneers já entendeu o que o Falcons tenta fazer e dessa vez escolhe o conceito de passe 4 verticals para desafiar a secundária que já se mostra inapta a executar a cobertura.

A mesma coisa aconteceu no drive seguinte. O Falcons tentou disfarçar sua cobertura mais uma vez, tentando convecer o ataque do Bucs que eles iam usar marcação mano a mano com alinhamento central do Safety #27 D. Kazee. Repare na ilustração do alinhamento abaixo. A vontade de tentar mostra marcação individual era tão forte que colocaram o LB #45 Deion Jones paras seguir o RB #22 TJ Logan, que se alinhou como WR no lado esquerdo da formação.

Falcons mostra marcação mano a mano em seu alinhamento, tentando disfarçar suas intenções

Outro ponto a se considerar é que o Bucs está com Personnel 10 (4WRs e 1RB) enquanto o Falcons está de Nickel 4-2-5. Isso significa que um LB ia ter que marcar um WR, o que não é uma boa idéia.

Na ilustração abaixo mostra como a defesa vai do alinhamento inicial para a cobertura Tampa 2.O LB #59 De’Vondre Campbell tem que fazer um drop muito grande da posição inicial enquanto o CB #20 K.Sheffield e o Safety #27 D.Kazee não sabem lidar com a rota Seam enquanto fazem o drop.

Alinhamento inicial coloca os jogadores do Falcons em má posição para executar a Tampa 2

Agora veja a jogada que o Bucs usou. Repare que é a mesma do segundo exemplo. Essa jogada é evidentemente desenhada para atacar a cobertura Tampa 2. A rota Out/Corner do lado esquerdo ocupa tanto o Safety quanto o CB, que no caso dessa jogada, para efeitos de “disfarce de cobertura” é o LB #45 Deion Jones que faz a técnica Squat do Cover 2.

A rota Drive desse mesmo lado serve para congelar os Seam-Hook defenders para que não ocupem as janelas de passe das outras rotas, as rotas do lado direito. A rota Over, a rota Seam e a rota Fade colocam pressão na profundidade da cobertura.

Finalmente, veja tudo isso no vídeo abaixo.

O HC Dan Quinn, apesar de ter levado o Falcons a um Super Bowl junto a Kyle Shanahan, cometeu erros crassos na formação de sua staff, entre eles não ter prromovido um assistente de Shanahan para OC quando o mesmo foi para San Francisco, e o mais recente de ter tentado acumular as funções de HC e DC. Por todos esses erros, o Falcons ganha mais se demití-lo.