O dia 30 de janeiro de 2000 foi marcado por um dos jogos de Super Bowl mais emocionantes de todos os tempos.O Rams, com seu ataque históricamente conhecido como Greatest Show On Turf, conquistaria o troféu em cima do Titans do técnico Jeff Fisher.
Apesar de toda a fama negativa do técnico pela história recente como ex-técnico do Rams, o Titans de 1999 comandado por Jeff Fisher era um time de respeito.Com o QB Steve McNair (que deus o tenha) e o RB Eddie George, aquele Titans de 1999 protagonizou momentos inesquecíveis como o Music City Miracle no Wild Card playoffs e a última jogada desse Super Bowl, onde o time ficou a 1 jarda de empatar a partida.
Ao mesmo tempo em algum lugar do estado da Geórgia um menino de 13 anos começaria sua vida escolar no Ensino Médio.
17 anos depois aquele menino se tornava Head Coach da franquia Rams, substituindo o vice-campeão do Super Bowl jogado em 2000.Para a surpresa geral da nação, em 17 anos aquele menino se tornaria um técnico melhor que seu antecessor.
O ataque do Rams de 2017 não é esquematicamente parecido com o Greatest Show On Turf de 1999 que Jeff Fisher quase conseguiu superar.Até porque para se conseguir um roster equivalente aquele em apenas uma temporada seria um milagre completo.Mas a genialidade de McVay está em justamente entender a NFL de hoje e usar as peças a disposição para maltratar as defesas adversárias.Arrisco dizer que sem as jogadas engenhosamente desenhadas pelo técnico, o roster atual do Rams provavelmente não estaria disputando uma vaga nos playoffs.
Com nuances que lembram o ataque do Falcons da temporada passada, o Rams tem agora um dos melhores ataques da liga.
E como deve ser, tudo começa com o jogo corrido.
Corridas criativas e inéditas
O jogo corrido por zona hoje é usado por praticamente todos os times da NFL, em menor ou maior escala.O motivo é a quantidade de estresse que esse tipo de esquema coloca na defesa, que eventualmente cansa de acompanhar o movimento da OL e do RB.
Quando você tem um RB que combina agilidade, velocidade e uma habilidade de quebrar tackles como Todd Gurley, esse tipo de esquema se torna fatal para a defesa, que joga como se estivesse sendo lentamente abraçado por uma serpente.
Como você pode ver nos exemplos abaixo, Gurley tem a habilidade tanto de correr por fora dos OTs, em um esquema Outside Zone, quanto correr entre os OTs em um esquema Inside Zone.
Mas a inventividade de McVay nessa temporada não encontrou fronteiras.Aproveitando a habilidade de um jogador como Tavon Austin, que andava meio escanteado nos tempos de Jeff Fisher, McVay criou alguns tipos de corridas que eu não me lembro de ter visto na NFL.
Abaixo podemos ver uma corrida que parece ser uma mistura dos conceitos Crack Toss e Sweep, com Tavon Austin saindo de uma posição de slot para correr com a bola do lado oposto.
Já a jogada abaixo ele simplesmente inventa uma nova variação do conceito de corrida Counter, com Tavon Austin se alinhado como WR no mesmo lado do corrida e fazendo o motion para um alinhamento de RB apenas para receber o Toss de Jared Goff e correr atrás dos bloqueios.Exótico e eficiente.
Créditos do Gif: Ted Nguyen
Ver um time comandado por Jeff Fisher usar essas jogadas seria inimaginável.E elas são difíceis de defender justamente por serem praticamente inéditas
Do Air Raid para o West Coast
A temporada de novato de Jared Goff foi preocupante, a ponto de alguns acharem que ele era um caso perdido e que o Rams precisava selecionar outro QB no Draft de 2017.
A realidade é que era esperado que a adaptação de Jared Goff na NFL fosse lenta.Isso porque no college ele jogava em um sistema ofensivo Air Raid.Nesse tipo de sistema, onde o QB recebe todos os snaps em Shotgun e se passa em 80% das jogadas, a maioria das mecânicas e técnicas do QB são usadas com uma frequência diferente das que um QB usa em um típico sistema da NFL.
Com o jogo corrido de volta aos trilhos em 2017, as coisas começaram a mudar para Jared Goff também.O playaction é um passe que forma a base de seu ataque aéreo.
Uma jogada que é usada praticamente todo o jogo pelo Rams é o playaction seguido de uma rota Dig do WR, que fica completamente livre pelo espaço deixado pelo LBs, que esperam uma corrida.
Aqui vemos essa jogada sendo executada contra a defesa do Saints.
Outro esquema usado junto com o playaction é o Flood.Depois de um playaction com boot para simular uma corrida de Outside Zone de um lado, o ataque coloca 3 recebedores do ataque em 3 níveis diferentes.
Shot 4 – Another one of the #Rams staples off play-action is the 3-level stretch. Ball is meant to go to the intermediate route, but depending on the look of the safeties Goff will go over the top for the big play. Has happened many times this year. pic.twitter.com/DTFSwg8dnc
— Fran Duffy (@fduffy3) 7 de dezembro de 2017
Uma jogada interessante que ataca a defesa quando o conceito Flood fica manjado é usar a rota Over que vem do lado oposto, que no meio da jogada se transforma em uma rota Out, surpreendendo o CB desse lado do campo.
O Rams usa essa jogada contra o Eagles aqui.
Sean McVay foi assistente de Kyle Shanahan em Washington, e assim como ele também usa alguns conceitos de passe derivados do sistema West Coast.Um desses conceitos é o conceito Follow, uma variação do conceito Hi-Lo.
Assim como Shanahan faz, o ataque Rams gosta de alinhar seus WRs perto da OL e em um alinhamento Stack ou Bunch.Esse alinhamento faz com que os WRs tenham mais espaço para correr as rotas curtas desses esquemas, pois a defesa alinha seu CBs em Off para evitarem o tráfego causado por ter 3 recebedores alinhados muitos próximos um do outro.
Aqui vemos uma recepção do WR Cooper Kupp em um conceito de passe Follow.
Um time ressucitado a partir da Off-season
As aquisições feitas pelos LA Rams durante a Off-season foram fundamentais para a guinada da equipe em 2017.
Com a chegada do WR Robert Woods pelo Free Agency, a seleção do TE Gerald Everett no draft e a troca feita pelo WR Sammy Watkins, o ataque do Rams, além do que tudo que foi mostrado nesse artigo, também se tornou perigoso no passe vertical e longo.
Um dos conceitos de passe usados pelo ataque que ameaça a secundária adversária profundamente é o conceito Scissors.Esse conceito funciona contra cobertura Cover 4, mas também pode ser eficiente contra cobertura homem-a-homem.
Veja esse conceito sendo usado contra a defesa do Texans abaixo
O conceito 4 verticals, usado contra uma cobertura Cover 3, também é usado para colocar pressão na secundária adversária.
O Rams personaliza esse conceito alinhando seus WRs em Stack.Nesse caso, o alinhamento junto com o release dos WRs colocam os DBs em dúvida e hesitação sobre as rotas que serão corridas pelos recebedores.
As 4 ameaças verticais só se mostram definitivamente alguns segundos depois do snap, o que abre uma janela para o passe de Goff para o TE Everett
Conclusão
Na década atual, estamos testemunhando mudanças radicais em termos esquemáticos, principalmente no lado ofensivo.
Técnicos da geração passada como Jeff Fisher, Rex Ryan, e os que ainda tem emprego como John Fox, Mike Mularkey e Jack Del Rio não mostraram/estão mostrando capacidade de se adaptar a essas mudanças, ao contrário de técnicos da mesma geração como Bill Belichick e Andy Reid.
McVay foi criado como técnico na década atual.Por isso ele sabe o que fazer e não é a toa que o técnico mais jovem da NFL é candidato a ganhar o prêmio de Head Coach do ano.