A redenção de Nick Foles e do Eagles no Super Bowl 52

O Super Bowl 52 poderia ter consagrado mais uma vez os imortais Tom Brady e Bill Belichick, que confirmaram mais um ano de domínio completo sobre a conferência americana mesmo com um time que perdeu algumas peças chaves na off-season, e por isso pode até ser considerado pior que o time vencedor do Super Bowl 51.

O favoritismo do Patriots antes do jogo era evidente.Enfrentaria um Eagles sem seu QB titular e com um QB reserva cercado de desconfiança.

Não era pra menos.Foles teve uma boa temporada em seu segundo ano de carreira, com a ex-sensação do College em seu primeiro ano como HC na NFL, Chip Kelly em 2013, mas seu números foram mais fruto da falta de familiaridade das defesas da NFL de 2013 com o “exótico” ataque de Chip do que de qualquer evolução de Foles como QB.Tirando a temporada de 2013, Foles sempre se mostrou um QB irregular.

O fato é que para o choque de todos, Foles jogou muito tanto na final da NFC quanto no Super Bowl, onde foi merecidamente eleito MVP da partida.

 

Recordar é viver: Nick Foles…

O mais importante aspecto sobre as atuações de Foles na final de conferência e no Super Bowl: Ele arriscou a maior parte dos passes longos que pode.E acertou a maioria.

Considerando o fato que a defesa do Patriots usa bastante a cobertura Cover 1 (apenas 1 Safety profundo) e também gosta de alinhar seus CBs em Press, arriscar passes longos foi chave para o Eagles nesse jogo.

Defesa do Patriots usa o cover 1 como cobertura base, jogando com variações da cobertura

É verdade que a inexplicável barração do CB Malcom Butler ajudou.E isso fez com que essa estratégia fosse mais eficiente.

Usar uma rota Fade contra uma cobertura Cover 1 na maioria das vezes deixa o WR sozinho contra o CB, pois o Safety no meio do campo está muito longe para para ajudar seu CB.

No cover 1, raramente o Safety será capaz de ajudar contra uma rota Fade

Ainda mais com o WR alinhado em uma Plus Split (além dos números do campo), se ele tem um release externo ao CB, não existe muita chance do Safety dar apoio a cobertura.

A jogada abaixo é um exemplo de batalha de CB e WR isolados em uma rota Fade.É um 1st down para o Eagles no meio do campo e o Patriots está em a cobertura Cover 1.O WR (#17) Alshon Jeffery está alinhado em uma Plus Split, enquanto o CB (#24) Stephon Gilmore está alinhado em Press.Logo após o snap, Nick Foles não pensa muito e logo tenta o passe para a rota Fade de Jeffery.

É o que chamam de “bola 50-50” a bola chega em Jeffery, mas a marcação de Gilmore foi boa o suficiente para ele conseguir defletir a bola que seria agarrada pelo WR.Jeffery ainda poderia ter conseguido fazer a recepção, mas a jogada que poderia facilmente deixar o Eagles na cara do TD acaba com uma interceptação.

 

Anteriormente no jogo o Eagles conseguiu atacar, dessa vez com sucesso, uma cobertura Cover 1 com uma rota Fade.No caso da jogada mostrada abaixo, a rota Fade do WR partiu de um Slot Split (WR alinhado entre os números do campo).Esse WR é mais uma vez Jeffery.

Perceba como existe outro WR alinhado ao lado de Jeffery, (#82) Torrey Smith, que está em um Plus Split.Torrey Smith corre uma curta rota Hitch, e essa rota serve para que a Smith “prenda” sua marcação, deixando a rota Fade ainda mais isolada.

Assim como na outra jogada, a bola de Foles sai rápido e ele completa passe para a rota Fade de Jeffery

 

O primeiro TD do jogo deu o tom da agressividade do Eagles e de Nick Foles.Mesma rota, mesmo WR e mesma cobertura: Rota Fade de Alshon Jeffery contra cobertura Cover 1.Dessa vez, Jeffery estava em um Numbers Split (alinhado em cima ou próximo aos números do campo).

Dessa vez a jogada saiu de um playaction, o que talvez signifique que, ao contrário das outras 2 jogadas, a intenção principal da jogada não era o passe para a rota Fade, e sim para a rota Over de (#13) Nelson Agholor.Porém Nick Foles não hesita em tentar a jogada mais arriscada e faz o que foi preciso para ser campeão do Super Bowl: Ser agressivo.

 

 

A familiaridade de Foles com o conceito de passe Mesh

Outra estratégia usada contra a cobertura Cover 1 da defesa do Patriots foi o uso por parte do ataque do Eagles do conceito de passe Mesh, um conceito que funciona muito bem contra cobertura homem-a-homem como o Cover 1.

O Mesh consiste em 2 rotas Drive se cruzando no meio do campo

O Mesh também era um conceito base do ataque de Chip Kelly de 2013 com o QB Nick Foles, e também por isso foi resgatado por Doug Pederson na pós-temporada, deixando seu QB mais confortável com uma jogada que ele sabia executar bem há anos.

A primeira vez que o Eagles usou esse conceito no jogo foi no final do 1º quarto.Mesh também é um conceito que funciona contra cobertura de zona, mais especificamente o Cover 3, cobertura usada pelos Patriots nessa jogada.

Aqui o Patriots usa uma variação do Cover 3 chamada de Cover 3 Buzz.Nela um dos Safeties é responsável por uma das zonas Hook.Perceba na jogada como a secundária do Patriots mostra uma dupla de Safeties alinhados lado-a-lado com se fossem fazer uma Cover 2 ou 4 e faz a “rotação” da cobertura após o snap: Um dos Safeties desce pro nível dos LBs e o outro recua para cobrir o meio do campo,

O problema é que nessa jogada a rotação não foi bem feita pelo Safety (#32) Devin McCouthy, que demorou a notar a rota de Agholor em sua zona e perdeu o leverage externo em relação a ele, cedendo a recepção e mais algumas jardas após a recepção.

 

Dessa vez, em um 3rd down crítico, o Eagles vai com a jogada Mesh mais uma vez.A variação usada aqui, com uma rota Wheel do RB, era uma das preferidas de Chip Kelly.

Com o Patriots em uma cobertura homem-a-homem (cover 1 de novo), ele tem o Safety (#37) Jordan Richards marcando o RB (#30) Corey Clements.A marcação de Richards em Clements é desnecessariamente agressiva, o que faz Clements conseguir o leverage profundo em relação ao Safety, fazendo a recepção e ganhando jardas após a recepção até a redzone adversária.

 

O próximo uso do conceito Mesh é o melhor exemplo de como essa jogada funciona contra cobertura homem-a-homem da defesa.Não a toa que em mais uma situação crítica de 3rd down o Eagles chama essa jogada.As rotas Drive do WR (#13) Agholor e o TE (#86) Zach Ertz se cruzam, criando o “tráfego” que atrapalha a marcação do CB em Agholor facilitando a recepção para a conquista do 1st down.

 

Na jogada mais crucial da partida, a escolha da jogada pelo Eagles não poderia ser outra.Em um 4th down com o Eagles atrás do placar faltando 6 minutos para o fim, o Mesh salva o Eagles mais uma vez.

A trombada que deixou Ertz livre

Em uma formação com 3 TEs, O Eagles encara mais uma vez uma cobertura homem-a-homem.O conceito Mesh contra esse tipo de cobertura funciona mais uma vez, criando o “tráfego” que faz Devin McCourty literalmente trombar com o TE que corre a rota Drive oposta.Deixando o TE Zach Ertz livre para receber o passe.

 

 

Eagles dita o ritmo de jogo com formações e motions

Outro mérito do plano de jogo do Eagles foi saber como a defesa do Patriots se comporta para atacar de acordo. o Eagles uso de motions e diferentes formações para ditar alguns matchups favoráveis.

No drive decisivo do jogo, o Eagles encara um 3rd and 6.Para converter a terceira descida, eles recorrem ao conceito de passe Follow, que consiste em uma combinação de uma rota Drive com uma rota Angle.

Conceito de passe Follow é formado por uma rota Drive e uma rota Angle

Nessa jogada o Eagles adicionou uma particularidade a esse conceito de passe.Partindo de uma formação 3×1 (3 recebedores de um lado da formação e 1 no outro) e de um alinhamento Trips bunch dos 3 recebedores do lado esquerdo, o Eagles tornou o conceito de passe mais eficiente nessa situação.

Alinhamento Bunch com 3 recebedores próximos

Esse alinhamento que coloca 3 WRs alinhados proximamente um do outro força a defesa se defender de uma forma que impeça que o “tráfego” causado pelo alinhamento de tantos jogadores próximos atrapalhe a marcação das rotas.

como você pode ver, um do CBs marca o WR do meio em um alinhamento Press.Se os outros CBs também se alinharem em Press, o risco de um “trombo” é muito grande.Portanto os outros CBs se alinham em Off.O CB que está alinhado em Press é o único que está em marcação mano a mano com WR em frente, que corre um uma rota Dig.

Os outros CBs estão em uma marcação Banjo.Isso significa que eles não estão necessariamente marcando o WR a frente deles.O CB mais perto da sideline marca o recebedor que correr uma rota que quebre externamente (pra fora do campo) e outro CB marca o recebedor que correr uma rota interna (pra dentro do campo).

É o que acontece na jogada.Alshon Jeffery corre a rota Drive e é marcado pelo CB que estava na frente de Zach Ertz antes do snap, enquanto o CB que estava na frente de Ertz marca a rota Angle de Ertz.

A grande magia na jogada está nessa rota Angle corrida por Ertz.Ela é uma rota que quebra externamente em um primeiro momento, mas repentinamente se torna uma rota Slant.Como o CB está em Off por causa do alinhamento dos recebedores, e ainda esperando marcar uma rota que quebre externamente, essa mudança de direção mata a marcação do CB, que está sem o leverage interno pra defender a jogada.Primeira descida para os Eagles.

 

No TD da vitória, o Eagles uso de motion para conseguir deixar Zach Ertz no mano a mano na redzone, coisa que o Patriots estava determinado a não deixar acontecer, colocando marcação dupla no TE do Eagles em muitas situações como essa.

Em mais uma formação 3×1, Ertz está isolado como único recebedor no lado esquerdo da formação.No entanto, o Patriots mais uma vez mostra intenções de marcar Ertz duplamente com o Safety Duron Harmon se colocando no lado esquerdo da formação.

Mas o Eagles mando o RB Corey Clements em um motion para o lado direito, o que faz Harmon correr para o outro lado para marcar Clements.O Eagles então consegue o que queria: Ertz no mano a mano, que correndo perfeitamente uma rota Slant faz a recepção para o TD.

 

Sendo uma defesa que sempre gostou de colocar marcação dupla nas melhores armas ofensivas do adversário, o Patriots tentou fazer isso com o TE Zach Ertz nesse jogo.Mas o Eagles soube muito bem tirar vantagem dessa atenção especial dada a Ertz.

O RB Clements começa alinhado como WR, mas depois volta para o backfield em um motion.Como o LB (#59) Marquis Flowers segue o RB, sabe-se que é cobertura homem-a-homem.Ertz recebe marcação dupla enquanto corre uma rota Dig,O RB Clements corre uma rota Seam partido da sua posição no backfield. O matchup se mostra favorável pois Clements é mais veloz que o LB e o deixa pra trás.Com Foles fazendo um ótimo passe na frente do RB, Eagles anota mais um TD.

 

Conclusão

O ataque do Eagles já se mostrava poderoso na temporada regular.Mas quando Carson Wentz se machucou e ficou fora da pós-temporada muita gente (eu incluído) achou que as chances do Eagles ganhar o Super Bowl se tornaram remotas.Afinal, Nick Foles não parecia confiável nem para ser reserva da NFL.

Mas o ataque do Eagles continuou jogando bem na pós temporada e Doug Pederson talvez seja quem mais merece crédito na conquista além de Nick Foles.Com planos de jogo e chamadas ofensivas irretocáveis, o time de Fildadélfia conquistou pela primeira vez o Lombardi Trophy.

Porquê o P/A ficou tanto tempo sem um post?

Tenho um histórico de problemas de saúde mental e estava com um problema desses desde fevereiro.Me recuperei a pouco tempo e espero agora ter recebido um diagnóstico certo para não ter mais crises.

Eu estava idealizando algumas séries de post, como uma série sobre coberturas Pattern Match para postar nessa off-season, mas por enquanto essa série foi adiada.

E se você gosta do blog, considere me apoiar no Apoia.se, me doar uns bitcoins ou me pagar um chopp. Me faria feliz e ainda mais pilhado a escrever no blog!